Por Cláudia Marczak
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada,
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu tantas vezes reles, (…) tantas vezes vil (…)”
Álvaro de Campos
É interessante, toda vez que falamos em erro imediatamente pensamos em algo que o outro não deveria ter feito. Respeitamos pouco ou ocultamos nossas falhas, como se fossemos seres perfeitos de incontestável sabedoria. Cobramos esta perfeição dos que nos cercam, dos nossos familiares e filhos, dos nossos amigos.
Vivemos a ditadura dos campeões: todos devemos ser os melhores. Visualizamos em nossos filhos a possibilidade de realização de tudo aquilo que não conseguimos em nossa trajetória pessoal; queremos que eles tenham as melhores notas, que sejam o melhor do time ou a dançarina mais talentosa; que sejam comunicativos, obedientes, organizados e outras tantas inúmeras qualidades intermináveis. Deixamos passar o detalhe óbvio que as crianças são humanas e donas de uma personalidade própria. São novos seres, não nossas cópias. E, por conta disso, podemos através deles crescer, reaprender a olhar o mundo, a perceber nossos erros, a aceitar nossas limitações.
Ninguém nasce sabendo. Se nós temos que aprender a andar, falar, comer, e tantas outras coisas, por que não aprender a nos conhecermos melhor e a respeitar o outro? A percepção de si mesmo é a melhor ferramenta para a convivência em grupo. Errar é preciso. Não se aprende com os acertos. O acerto encerra-se em si. O erro é a possibilidade de rever, de reavaliar, de descobrir. Lidar com o erro dos nossos filhos ou alunos pode ajudá-los a uma compreensão mais clara de suas potencialidades e do mundo. Lidar com os nossos erros é fundamental para que possamos nos sentir mais humanos, afinal, o nosso planeta precisa hoje é de humanidade.
Claudia Marczak
É professora, psicóloga e escritora. Formada em psicologia pela Universidade Católica de Santos, com pós-graduação em Ética, Valores e Cidadania pela Universidade de São Paulo, tem sua trajetória profissional construída com o foco na educação.
Claudia é parte da curadoria da Rota Imaginária, além de ser nossa consultora pedagógica e de questões psicológicas relacionadas à infância.